Não é segredo que o Vitória vive situação financeira delicada. Salários atrasados e processos trabalhistas se tornaram um problema recorrente na Toca do Leão. A temporada de 2020, afetada pela pandemia de coronavírus, pode ser problemática para o clube baiano, segundo indica o relatório de análise financeira das agremiações do país, publicado na última terça-feira pelo banco Itaú BBA.
O banco aponta que o Vitória realizou, em 2019, investimentos compatíveis com as atuais condições do clube. Porém, os cortes não impediram o crescimento da dívida. Como a principal fonte de receita, direitos de TV, segue reduzido pela disputa da Segunda Divisão, resta ao Rubro-Negro a venda de atletas como alternativa para equilibrar as contas.
– Se mantendo na Séria B, o ano de 2020 tende a ser bastante difícil para o Vitória. Se não vender atletas, a situação tende a ser dificílima ao final da temporada – expõe o documento.
Em 2019, o Vitória teve R$ 46 milhões em receitas. Somente com venda de jogadores, o clube arrecadou R$ 20 milhões, quase metade do total. Em termos comparativos, no ano de 2018, quando estava na Série A, o Rubro-Negro recebeu R$ 92 milhões.
Com rebaixamento para a Série B, em 2018, as receitas do Vitória caíram — Foto: Thiago Pereira
Enquanto as receitas caíram, as dívidas aumentaram, principalmente com relação a impostos e acordos. O Itaú BBA alerta que seguir na Série B por mais tempo pode ser ainda mais perigoso para as finanças Vitória.
– Permanecer na Série B coloca em risco a capacidade de pagamentos do clube – diz o relatório.
O cenário fez o Vitória seguir a tendência de queda no Índice Placar / Itaú BBA, métrica utilizada para aferir a solidez financeira dos clubes. Em 2015, o clube tinha nota positiva em 7, mas caiu para uma pontuação negativa em 5 no ano seguinte. Em 2017 e 2018, a nota foi negativa em 7. Já em 2019, a pontuação caiu ainda mais e ficou negativa em 11.
A necessidade por novas receitas é grande, mas a estimativa elaborada pelo Itaú BBA não é otimista. O banco projeta que o clube receba cerca de R$ 4 milhões em venda de jogadores, enquanto os direitos de televisão serão mantidos em aproximadamente R$ 7,5 milhões. Com os jogos sem público, o Vitória não conseguirá grandes cifras com bilheteria.
O Itaú BBA conclui que o Vitória precisa organizar as contas e alcançar um equilíbrio.
– O Vitória é daqueles casos de clubes que enquanto se mantém na série A se sustentam à base das receitas de TV, que favorecem vendas de atletas. O problema é quando caem, perdem as receitas, mas permanecem com inúmeros problemas de dívidas, que a nova realidade não comporta. Mesmo com ajustes, menores que a necessidade demanda, o Vitória foi incapaz de alcançar o equilíbrio. É preciso um esforço maior, uma gestão mais eficiente e com os pés-no-chão, e que se ampare nas categorias de base como forma de reverter o cenário difícil. É um ciclo vicioso que precisa ser rompido, mesmo que leve algum tempo até que o clube reencontre o equilíbrio e a capacidade de ser competitivo.